Troika não exigiu mudanças na TSU
“Se houver apenas austeridade,
a economia não vai sobreviver”, diz Selassie
Abebe Selassie afirmou, em entrevista ao Público, que os cortes
salariais foram ideia do governo e que a troika não exigiu qualquer mudança na
Taxa Social Única (TSU).
Recorde-se que Vítor Gaspar já tinha dito o mesmo, na terça-feira, em
entrevista à SIC: "a baixa da TSU para as empresas e a subida de sete
pontos percentuais nos descontos para a Segurança Social e Caixa Geral de
Aposentações dos trabalhadores privados e do Estado não foram contrapartida
exigidas pela troika para dar mais um ano a Portugal para reduzir o défice das
contas públicas para valores abaixo dos 3%".
O chefe da missão do FMI em Portugal acrescentou ainda que se do
programa constar apenas austeridade, "a economia não vai sobreviver".
“É imperativo que tenhamos também reformas que melhorem a
produtividade. Resolver o problema da competitividade simplesmente reduzindo os
salários não vai resultar”, disse ainda Selassie.
O economista etíope referiu ainda que qualquer medida que fosse
tomada pelo executivo teria gerado um grande debate: “Se o IRS ou o IRC
tivessem sido aumentados, as pessoas teriam dito: mas porquê o IRS, porquê o
IRC? Se fosse o IVA também se queixariam. Qual seria a alternativa? Qualquer
medida que fosse tomada teria também gerado um debate grande”.
Com a flexibilização das metas do défice, “o que tentámos foi dar
mais tempo ao ajustamento orçamental, de modo a evitar tensões excessivas na
economia”, concluiu o chefe da missão.
Segundo Selassie, o Governo decidira anteriormente não avançar com o
corte da TSU, mas a ideia foi retomada “na sequência da decisão do Tribunal
Constitucional sobre os cortes dos subsídios”.
Selassie disse também que a troika está convencida de que esta medida
“irá suportar a procura de emprego”, embora reconhecendo que terá impacto sobre
os rendimentos disponíveis.
“Imagino que esta seja uma das medidas mais difíceis que o governo já
tomou até aqui. E insisto: nesta conjuntura, qualquer outra medida que tivesse
sido tomada teria gerado o mesmo debate”, disse.
O chefe da missão do FMI rejeitou que Portugal esteja a ser sujeito a
uma experiência económica e disse que o ajustamento orçamental se deve aos
“desequilíbrios perigosos que a economia portuguesa acumulou desde 2001”.
Sobre a possibilidade de o PS votar contra o Orçamento de Estado,
Selassie disse que “a base alargada de consenso social e político é
importante”, mas que se trata de “uma questão de política doméstica interna”.
“Vemos o programa a correr bem até ao momento. Portugal ganhou
credibilidade crescente pela forma como o programa foi implementado”,
acrescentou.
Abebe Selassie deslocou-se a Portugal no âmbito da quinta avaliação
da troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário
Internacional) ao plano de ajustamento da economia portuguesa, concluída na
terça-feira, de que resultou um adiamento das metas para reduzir o défice.
Jornal i, online, 13 setembro
2012, [url] http://www.ionline.pt/dinheiro/troika-nao-exigiu-mudancas-na-tsu
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